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quarta-feira, 5 de maio de 2010

Desabafo





Tudo continua como sempre parece ter sido. Os políticos ainda seguram no colo as crianças, que em sua inocência aceitam. Aonde foi a dignidade? A política tão podre como sempre esteve e tantos outros querendo entrar para o circulo. Seria essa a previsão ateniense para o uso de sua primorosa invenção?

As mudanças sistemáticas na sociedade não alteraram em nada a real condição humana. As minorias ainda são a maior parte da população e a alienação só mudou de enredo, inovou-se somente.

Eu me pergunto: por que é tão importante a libertação intelectual na condição efêmera a qual estamos condenados? Não sei, meu coração me responde unicamente com um desejo. A luta é necessária? Seria muito bom conquistar sem correr risco, mas impossível também. Dos planos já forjados, das batalhas já travadas e das mínimas conquistas, apaziguadoras por sinal, guardamos a lição e a vontade.

Morremos a cada dia ao negar nossos sonhos, tornou-se impossível não negar. Acreditar é bom, mas quando essa crença é manipulada tornamo-nos ferramentas em mãos insanas. Morrer é uma certeza, mas em nome do que? A nossa consciência nos permite essa ostentação. E de tudo que vivemos, e falo individualmente, nada temos de novo em relação aos demais. A vida condena ao mesmo tempo que promove.

Contudo quem realmente teria capacidade de governar jamais se envolveria nisso, por lucidez, e nem mesmo seria aceito.





Imagem: Glory Hole de Keith Haring


terça-feira, 4 de maio de 2010

O mundo



Eu vi uma imagem da terra, do globo terrestre, o mundo, sim, o mundo imenso, tão pequeno que cabia em uma tela minúscula. Lá estava redondinho, mas sabemos que não é assim, ele é cheio de elevações, deformações, depressões é meio achatado nos pólos etc. Sempre que ouvimos falar a palavra “terra” ou “planeta” nos vem à mesma imagem, o mundinho, redondinho, azulzinho, bonitinho. É estranho como nos todos apropriamo-nos da mesma idéia descaradamente. A mesma imagem nos foi vendida. A todos nos. O mundo será também o mesmo?

Em outra oportunidade lembro de ter visto em um comercial na televisão, uma moça muito bonita e jovem segurar com uma das mãos uma replica da terra, (imperfeita como a imagem que temos), no comercial a terra parecia leve (para muitos acaba não sendo a sete palmos) e a moça a erguia com facilidade usando apenas uma mão. Quando vi o comercial lembrei-me de Charles Chaplin em um de seus filmes, no qual ele interpreta um ditador (o nome do filme é O grande ditador) e em uma das cenas brinca com um globo.

A, o mundo. Onde está? Nas mãos de quem e quem brinca com ele? Muitas perguntas se pode fazer sobre o velho e conhecido mundo. Mas o mundo parece sempre o mesmo para quem sempre viveu nele... O mundo, sempre essa triste metáfora.

Vi a imagem do planeta e me perguntei onde estão as pessoas? Tão pequenas a tamanha altura, as pessoas ficam invisíveis. Mas as pessoas passam cabisbaixas, de lá pra cá apressadamente, vão para onde? Só elas sabem... Então eu decidi que não mais pensaria no mundo como uma bolota azul. Decidi criar minha própria imagem do mundo, um filme dele, com os sons que eu escolhi com as imagens que eu queria. Um novo mundo, este sim palpável, nada de estereótipos comerciais. Só o mundo como vejo e posso sentir, mesmo que isso signifique aceitar toda desilusão.

Neste grande mundo nada mais me escapa, estarei sempre entre o possível e o imaginável, sempre entre as vontades e o alcançar, caminharei sempre de encontro as possibilidades, e ouvirei o que as canções me dizem, mesmo que essas não digam uma palavra se quer, são justamente essas canções que mais nos dizem coisas sobre nós mesmos. E talvez se eu for capaz de me conhecer, posso descobrir meu lugar no mundo.

Me espere mundo!!

Lá vou eu...





Imagem: Prager Straße de Otto Dix

sábado, 3 de abril de 2010

Essência da vida





Estivemos juntos por pouco tempo, mas foi recente e por isso é vivo, cândido e benéfico. Até quando será assim? Nenhuma previsão revela, mas meu senso empírico me diz que não é eterno e por isso preciso acostumar-me com a idéia da perda, mesmo que a abomine.
È maravilhoso como as coisas se integram musicalmente, e em minha mente cinematográfica, construo cenas ou simplesmente as vejo. Meu olhar sobre o tempo de forma absoluta e as trilhas sonoras que imagino em tais cenas se encaixa com perfeição, no meu gosto parcial e nada profissional.
Tudo é um belo musical...
Como essa nossa história que, apesar de condenada pelo tempo, ainda vive. Como o mundo em toda sua relatividade.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Mascara





Eu sei que em cada mascara que se coloca na face, se desfaz um sorriso amigo. Mesmo a inesperada descoberta não nos faz retornar. É uma aterrissagem forçada, e sentir-se alheio é o mais comum nessas ocasiões.

Eu voltei por alguns segundos, e percebi que o amor permanece que a vida permanece que o desejo permanece, mas meu coração não.

Meu coração vaga no que já não é mais, pois tudo que continua encontra motivação em algo futuro. Então minha vida mistura-se com meus sonhos. Formando uma mistura confusa da qual não sou capaz de reaver meu sorriso, que nela também se perdeu. Então sonhar é apenas o que posso fazer se já nem sou mais eu.

quarta-feira, 31 de março de 2010

Aos habitantes de Hiperbórea







O tempo passa e fazemos muitas descobertas, que estão escancaradas a nossa frente. Coisas que acontecem a todo instante, mas só nos ensinam algo quando as experimentamos.
A gente percebe que quem realmente se importa conosco nunca nos pediu nada. Que remorso é sentir que ainda a algo a se fazer. Que a noite queima em sua escura solidão (quando se está só). E que não importa para onde vamos, tudo que nos amedronta estará lá também. Percebemos que nossas lágrimas não são mais doídas que as de ninguém, e que chorar é só um detalhe, pois querendo, sobrevive-se a qualquer coisa, mesmo que não se esteja tão bem ao fim, pode-se estar vivo somente, que não é grande coisa. Descobrimos que planos são inúteis, não compensa perder tempo criando-os, o tempo se encarregará de alterá-los, inverte-los e até destruir-los. Aprendemos que sofrer não é preciso, mas inevitável, e que a dor de ninguém transcende a barreira que delimita a dor dos outros. Percebemos, que somos fracos, influenciáveis, voláteis, quimicamente controláveis, e que não existem razões ou necessidades universais, que todas essas coisas não passam de invenções. Mas continuamos a aprender indefinidas coisa que não altera o nosso estado natural de inconformidade, não confortam nem excitam. Então por que continuar? É a pergunta que me faço todos os dias.
E aos demais...
Não nos classifiquem!
Não se oponham!
Não duvidem de nosso pessimismo!
Não nos julguem!
Não se comparem ou tentem se igualar!
Não nos apedreje!
Pois estamos “longe de mais das capitais”. Moramos no extremo norte, somos hiperbóreos.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Chuva



“Chovendo por dentro , impossível por fora”. Eu recitava esses versos com o juízo já meio fraco. Exausto de tudo aquilo, do conflito que se prolonga e se repete indefinidas vezes, segui sorrindo. E aprendi algumas coisas, que não me elevam perante a ninguém, mas que me são úteis.

O que define um homem não são as conquistas que ele fez, mas por que as fez. Pode parecer à frase de alguém que se vê incapaz de prosseguir ou que não é bom o suficiente para isso. Talvez realmente seja, mas já não me importa, isso eu já deixei pra traz, esse receio do julgamento, abandonei.

A chuva traz noticias de longe, como uma voz rouca de entonação familiar, me conta coisas sobre as quais sonhei diversas vezes, mas de concreto nada sei.

A chuva diz o tipo de pessoa que sou, pois ela explica por que a observo tristemente, qual a razão de minhas escolhas, e discretamente em cada pingo que cai revela quem sou eu. A chuva é quase a própria metáfora materializada, em seus sons, em suas formas, nas crianças que nela brincam, nos proletários que tentam dela se proteger, ela é um murmúrio tímido em meio à vida que explode indiferente, a cada instante, enredando mortais.





Dedicado a Moizés Barros.

terça-feira, 23 de março de 2010

Tango






Li em algum lugar que o tango era um sentimento triste que se pode dançar. Mesmo não sabendo dançar, concordei. Pois esse ritmo morno como uma lágrima envolve minha alma, mesmo não entendendo bem o que as letras dizem (salvo algumas palavras cognatas que capto no ar sem muita pretensão) me emociono com a profundidade que as vozes expressam, com o ritmo maleável e, mais uma vez, envolvente que o tango possui. Tenho lido as traduções daqueles de qual mais gosto, e mesmo elas não tendo um sentido nítido (afinal são traduções amadoras) me satisfaço em não ser tão hipócrita de gostar de musicas que nem mesmo sei sobre o que falam.

Esse sopro de agonia, essa poesia mortífera que é o tango em toda a sua beleza musical e visual, atrai impiedosamente quem com ele se depara.

Como são belos e altivos os movimentos dos bailarinos ao dançarem o tango, toda a leveza, e em cada passo se vai, junto com os corpos dos dançantes, o olhar dos espectadores. Que levam consigo seus anseios, seu pesar, seus pensamentos ineficazes.

Isso pra mim é o tango, uma cultura abominada no país onde vivo. Encontrei em meus bons vizinhos esse deslumbre. Não que no Brasil não tenhamos musicas, ritmos, poesias maravilhosas, pelo contrário o Brasil é dotado de uma diversidade cultural imensurável, de uma beleza brasileiramente bela e distinta, mesmo entre aquilo que é seu. Mas não há como explicar, o tango é único, não melhor, mas único na emoção que proporciona como o samba (em comparação mesquinha) que também é único.

Ao fim dessas palavras de alguém que pouco conhece, mas que muito admira, deixo um trecho de uma canção que tem me emocionado...


[...] Tengo miedo del encuentro

con el pasado que vuelve

a enfrentarse con mi vida...

Tengo miedo de las noches

que pobladas de recuerdos

encadenan mi soñar... [...]


[...] Tenho medo do encontro

com o passado que volta

a enfrentar-se com minha vida...

Tenho medo das noites

que povoadas de lembranças

encadeiam meu sonhar... [...]

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Alberto Cabañas