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quarta-feira, 31 de março de 2010

Aos habitantes de Hiperbórea







O tempo passa e fazemos muitas descobertas, que estão escancaradas a nossa frente. Coisas que acontecem a todo instante, mas só nos ensinam algo quando as experimentamos.
A gente percebe que quem realmente se importa conosco nunca nos pediu nada. Que remorso é sentir que ainda a algo a se fazer. Que a noite queima em sua escura solidão (quando se está só). E que não importa para onde vamos, tudo que nos amedronta estará lá também. Percebemos que nossas lágrimas não são mais doídas que as de ninguém, e que chorar é só um detalhe, pois querendo, sobrevive-se a qualquer coisa, mesmo que não se esteja tão bem ao fim, pode-se estar vivo somente, que não é grande coisa. Descobrimos que planos são inúteis, não compensa perder tempo criando-os, o tempo se encarregará de alterá-los, inverte-los e até destruir-los. Aprendemos que sofrer não é preciso, mas inevitável, e que a dor de ninguém transcende a barreira que delimita a dor dos outros. Percebemos, que somos fracos, influenciáveis, voláteis, quimicamente controláveis, e que não existem razões ou necessidades universais, que todas essas coisas não passam de invenções. Mas continuamos a aprender indefinidas coisa que não altera o nosso estado natural de inconformidade, não confortam nem excitam. Então por que continuar? É a pergunta que me faço todos os dias.
E aos demais...
Não nos classifiquem!
Não se oponham!
Não duvidem de nosso pessimismo!
Não nos julguem!
Não se comparem ou tentem se igualar!
Não nos apedreje!
Pois estamos “longe de mais das capitais”. Moramos no extremo norte, somos hiperbóreos.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Chuva



“Chovendo por dentro , impossível por fora”. Eu recitava esses versos com o juízo já meio fraco. Exausto de tudo aquilo, do conflito que se prolonga e se repete indefinidas vezes, segui sorrindo. E aprendi algumas coisas, que não me elevam perante a ninguém, mas que me são úteis.

O que define um homem não são as conquistas que ele fez, mas por que as fez. Pode parecer à frase de alguém que se vê incapaz de prosseguir ou que não é bom o suficiente para isso. Talvez realmente seja, mas já não me importa, isso eu já deixei pra traz, esse receio do julgamento, abandonei.

A chuva traz noticias de longe, como uma voz rouca de entonação familiar, me conta coisas sobre as quais sonhei diversas vezes, mas de concreto nada sei.

A chuva diz o tipo de pessoa que sou, pois ela explica por que a observo tristemente, qual a razão de minhas escolhas, e discretamente em cada pingo que cai revela quem sou eu. A chuva é quase a própria metáfora materializada, em seus sons, em suas formas, nas crianças que nela brincam, nos proletários que tentam dela se proteger, ela é um murmúrio tímido em meio à vida que explode indiferente, a cada instante, enredando mortais.





Dedicado a Moizés Barros.

terça-feira, 23 de março de 2010

Tango






Li em algum lugar que o tango era um sentimento triste que se pode dançar. Mesmo não sabendo dançar, concordei. Pois esse ritmo morno como uma lágrima envolve minha alma, mesmo não entendendo bem o que as letras dizem (salvo algumas palavras cognatas que capto no ar sem muita pretensão) me emociono com a profundidade que as vozes expressam, com o ritmo maleável e, mais uma vez, envolvente que o tango possui. Tenho lido as traduções daqueles de qual mais gosto, e mesmo elas não tendo um sentido nítido (afinal são traduções amadoras) me satisfaço em não ser tão hipócrita de gostar de musicas que nem mesmo sei sobre o que falam.

Esse sopro de agonia, essa poesia mortífera que é o tango em toda a sua beleza musical e visual, atrai impiedosamente quem com ele se depara.

Como são belos e altivos os movimentos dos bailarinos ao dançarem o tango, toda a leveza, e em cada passo se vai, junto com os corpos dos dançantes, o olhar dos espectadores. Que levam consigo seus anseios, seu pesar, seus pensamentos ineficazes.

Isso pra mim é o tango, uma cultura abominada no país onde vivo. Encontrei em meus bons vizinhos esse deslumbre. Não que no Brasil não tenhamos musicas, ritmos, poesias maravilhosas, pelo contrário o Brasil é dotado de uma diversidade cultural imensurável, de uma beleza brasileiramente bela e distinta, mesmo entre aquilo que é seu. Mas não há como explicar, o tango é único, não melhor, mas único na emoção que proporciona como o samba (em comparação mesquinha) que também é único.

Ao fim dessas palavras de alguém que pouco conhece, mas que muito admira, deixo um trecho de uma canção que tem me emocionado...


[...] Tengo miedo del encuentro

con el pasado que vuelve

a enfrentarse con mi vida...

Tengo miedo de las noches

que pobladas de recuerdos

encadenan mi soñar... [...]


[...] Tenho medo do encontro

com o passado que volta

a enfrentar-se com minha vida...

Tenho medo das noites

que povoadas de lembranças

encadeiam meu sonhar... [...]

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Alberto Cabañas


segunda-feira, 22 de março de 2010

A Cidade



A cidade dita o ritmo da loucura. O desespero humano nela se concretiza de forma maciça, na existência quase alienígena de alguns indivíduos, na sobreposição de acontecimentos e situações... Suas luzes penetram retina adentro, sua umidade, o ar pesado, as ruas que fedem. Tudo previsto e assinado, aceito de bom grado por quem gosta da cidade. Mesmo a banalidade nas relações, mesmo sua anti-poesia ou a sua pseudopoesia, mesmo isso claro e cortante ainda é a cidade pra quem precisa da cidade. E até tendo nas mãos a sua traiçoeira forma ela ainda não pertencerá a ninguém pois sobrevive das ilusões de quem vive a cidade.


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Na lista de visitantes recentes, lá estava a sua foto... Aquele mesmo sorriso.

Por que ainda me torturo?

- Eu sou minha própria perdição. Eu mesmo, a droga que mais me faz mal, minha solidão, pensamentos que percorro, cicatrizes que cutuco, medos que alimento, desejos que afogo, o mesmo bolero que repete na playlist, programada para isso.

Por que negar o que sou, o desejo que me persegue? A lembrança que persiste... Não há mal em ser quem se é, era o que um grande amigo meu me dizia sempre, eu nunca gostei desses conselhos tão clichês, agora eles são exatamente o que me faltam, ou o mínimo do que eu precisava, não há mais amigo nem conselho, talvez o que reste seja apenas uma misera migalha de esperança, insistente e massacrante...


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sexta-feira, 19 de março de 2010